domingo, 7 de fevereiro de 2010

Breves considerações sobre o amor e a paixão.

Nesta sexta (5 de fevereiro de 2010) foi exibido um documentário no Globo Reporter com o tema "O que acontece no corpo de um apaixonado?". O documentário explicava a fisiologia das diversas emoções que sentimos quando estamos apaixonados, diante do primeiro beijo, diante da primeira noite de amor e em situações de conflito amoroso. O tema já havia sido abordado pelo programa outras vezes.


Nesse texto, faço breves considerações sobre o tema, de maneira introdutória. O assunto é muito denso e por mais que me esforce, uma não seria possível por meio deste pequeno ensaio, esgotar o assunto.





Não consegui assistir a matéria inteira, muito embora estivesse bastante interessante, mas até onde acompanhei e lí em seguida, ela obteve sucesso naquilo que propôs : explicar o que ocorre no corpo de quem se apaixona. Por outro lado, gerou certa confusão em algumas pessoas, que me perguntaram se é por causa dos neurotransmissores que nós amamos.

Antes de continuar, pense e responda você mesmo esta pergunta. 
.
.
.
.

A resposta é não! É verdade que tudo aquilo ocorre no nosso corpo quando estamos beijando, sentindo o cheiro, fazendo carinho ou mesmo pensando na pessoa amada. Mas estas sensações não são a causa do amor nem da paixão: elas são o próprio amor e a paixão acontecendo. O que faz com que aconteçam?

Aquelas sensações acontecem por causa do tipo de estimulação que o organismo (com toda a sua carga genética/biológica e ontogenética) recebe do ambiente que o circunda. Esta estimulação pode ser  tátil (toque do outro), auditiva (fala do outro), visual (beleza do outro) ou olfativa (cheiro do outro). Em outras palavras, a causa da sensação está na relação desde organismo com o este ambiente.

Por que "aquela" pessoa e não outra?

Alguns padrões de estética foram selecionados filogeneticamente por terem sido associados a maiores probabilidades de sobrevivência e prole saudável. Estes padrões podem variar geograficamente, conforme mudam também as condições que o ambiente ofereça. Por exemplo, aqui na América, o tipo físico é a pessoa de corpo "magro" ou "sarado(a)" que sinaliza saúde e, por consequência, possibilidade de uma prole mais resistente. Em alguns países da África, onde muitos passam fome, é ao contrário: os tipos físicos mais "cheinhos" são preferidos; são eles os quais sinalizam esta possibilidade.

O tipo físico que sinaliza estas possibilidades já tem, de antemão, maiores chances de ser "escolhido" pelo (a) parceiro. Mas é importante lembrar que tipo físico não é tudo.

De acordo com a Psicologia Evolutiva, enquanto os homens dão mais valor ao tipo físico, a mulher dá mais valor a fatores que sinalizam segurança e status social  e pessoal - o que, obviamente, também não é tudo. É importante dizer que, segurança e status social, engloba coisas como: ser sociável, ter habilidade para liderança, ter dinheiro, laços de amizade e familiares bastante sólidos, etc. Segurança e status pessoal engloba: ter habilidade para resolver problemas, potencial para crescer na vida, demonstrar inteligência, etc.

Além destes dois fatores - beleza física e segurança social/ pessoal - a pessoa também tem de ser legal. E o que é ser legal? É fazer coisas que o outro gosta - coisas que façam rir, dêem prazer, etc. (estas coisas são aprendidas na história de vida individual de cada um) e  consequenciar de maneira agradável e espontânea as coisas que o outro faz com você, especialmente as relacionadas ao amor/ paixão. Isto acaba por fazer com que o outro comece a gostar de você e, consequentemente, ao longo do tempo, comece a sentir tudo aquilo que se sente quando se está apaixonado.

Uma pessoa divertida, que faz com que o (a) parceiro(a) sinta-se bem, que sabe conversar sobre muitas coisas, que está sempre surpreendendo o (a) outro (a), tem muitas chances de conseguir um amor de verdade. Às vezes até mais do que uma pessoa rica, bonita e chata. Não se pode, no entanto, descuidar da aparência. Uma pessoa que não se cuida, que condições teria de cuidar de uma família?

É isso aí. O amor é multideterminado, e o que falta em um lugar, pode ser compensado em outro. É importante ter cuidado, no entanto, quando se tenta entender o amor. Como diria Roberto Freire: quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando.

3 comentários:

Walisson disse...

Boa análise! Os neuropsicólogos e psicólogos evolutivos tendem a desconsiderar grande parte das influências do meio nisso aí. Acabam por biologizar muito o comportamento.

Mr. Cortex disse...

O amor, como todo fenômeno, deve ser estudado, quantificado e (como se diz aqui no sul: "se pá") qualificado. Estar amando é ótimo e a experiência deve ser aproveitada, certamente. Afinal é uma das melhores coisas na vida da pessoa. Mas, em especial no amor, "[vir a] conhecer os determinantes de suas próprias ações" é um crescimento essencial no decorrer da vida do indivíduo para evitar sofrimentos repetitivos.
Mas, mais uma vez, ótimo post. Complemento muito recomendável à matéria do Fantástico.

srreis disse...

"Como diria Roberto Freire: quem começa a entender o amor, a explicá-lo, a qualificá-lo e quantificá-lo, já não está amando."
E sem mais comentários...
;)

Postar um comentário