Texto original por Steven C. Hayes, disponível em inglês neste link.
É irônico, mas é difícil ter uma conversa adulta sobre sexo. Em algumas áreas, estes tópicos são tão envoltos em tabus que você coloca sua reputação em risco ao pensar na possibilidade de falar sobre.
Vou lhe dar um exemplo. Existem muitas pessoas que possuem suas vidas interrompidas pela maneira, ou quantidade de tempo que gastam assistindo pornô.
Ei. Rápido. Antes de você fechar seus ouvidos, ouça ao que tenho a dizer.
Eu não estou dizendo que assistir uma quantia X (ou até XXX) de pornô é muito. Eu não tenho uma escala numérica deste tipo a oferecer e, se você assiste pornô e se sente confortável em relação a isto, não vejo problemas. Realmente. Eu não estou tentando misturar meu papel de Psicólogo com o de um policial moralista. Eu estou dizendo que na vida de algumas pessoas, ver pornografia pode ocorrer de tal forma, ou em uma quantidade tão alta, que pode ter altos custos – de acordo com os próprios. As pessoas podem perder tanto tempo assistindo pornô que deixam de lado outras partes da vida. Eles podem ficar obcecados por imagens perturbadoras, e podem alternar entre assistir e sentir auto aversão. Eles podem permitir que seus hábitos de assistir se tornem uma barreira entre eles mesmos e seus parceiros, ou até mesmo arriscar sua estabilidade financeira vendo pornografia no trabalho.
Até parece que não sabemos desta verdade inconveniente, e sabemos também da sua política incorreta na cultura mainstream. Algumas pesquisas recentes sugerem que 17% dos indivíduos que assistem pornô na internet atingem os critérios para a compulsividade sexual. Isto se traduz em um monte de gente, levando-se em consideração que mais ou menos 12% do tráfego na Web está atrelado a pornografia, e quase 90% da população masculina jovem (e mais ou menos 30% da população feminina) assistem a conteúdos pornográficos, mesmo que ocasionalmente. Infelizmente, este problema é tão confuso politicamente que pesquisadores clínicos fogem deste assunto, no lugar de aproximarem-se dele.
Até Agosto de 2010, nenhum estudo sobre tratamento controlado havia sido publicado sobre o problema que não pode ser nomeado. O governo federal não é melhor: eles nunca financiaram nenhum estudo que tinha em foco este problema e ainda mais, disseram para pesquisadores nem tentarem levantar fundos para uma pesquisa deste tipo através de canais normais de financiamento científico. Este padrão de esquiva protege os psicólogos ou burocratas medrosos de colocar o dedo neste liquidificador cultural, mas deixa a vida de várias pessoas brigando com o problema e sem métodos testados e conhecidos por ajudarem.
Parte do problema pode ser que a área é tão contraintuitiva que Psicólogos simplesmente não sabem o que fazer. Michael Twohig, Psicólogo docente na Universidade Estadual de Utah (um ex-aluno meu) e seus alunos, recentemente descobriram que existe um processo irônico ao visualizar a problemática. As pessoas que ficam lutando contra a urge de assistir [pornô], acabam assistindo ainda mais e também tem maiores problemas psicológicos. Em outras palavras, o jeito normal de reduzirmos as coisas em nossas vidas (esquivar ou modificar deliberadamente o que você não quer) tem o efeito exatamente oposto do que se quer.
Nós temos visto este padrão anteriormente em áreas como a do Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC). Aqui está a receita. Pegue a urge ou um pensamento estranho; misture-o com emoções negativas, sensações ou imagens; então dobre tudo em um mesmo monte, ajudando a supressão e esquiva (puxando para fora da mente, engajando-se em um desfazer ritualístico). Voila. Ensopado de obsessão.
Toda vez que você checar se sua supressão funcionou – bom, não funcionou. Você acabou de pensar sobre isto. Faça novamente. Coloque ainda mais emoções negativas. Mais tentativas de controlar. Mais vezes checando para pensar se eles foram embora. Mais luta.
Ensopado de obsessão.
Pesquisadores de tratamentos descobriram recentemente algumas formas de agir sobre a urge de supressão e da indulgência, ambas as descobertas verificarem os efeitos auto amplificadores tanto no TOC quanto no Espectro do TOC. Com a utilização do tratamento pode-se reduzir alguns dos sintomas, tais como tricotilomania ou a conduta auto lesiva, utilizando-se da Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT – que é dita como uma palavra e não como iniciais). Diversos estudos controlados (a maioria de Twohig ou pelo Psicólogo Doug Woods e seus alunos pela Universidade de Wisconsin, Milwaukee) encontraram efeitos positivos da ACT ensinando as pessoas como andar na direção oposta da sugerida pelo nosso órgão solucionador de problemas que fica entre nossos ouvidos. No lugar de controlar as urges, a ACT ensina a aceitação e o mindful awareness. Isto se sobrepõem a auto depreciação e a auto crítica, ACT ensina auto compaixão. No lugar de esquiva, ACT instiga a aproximação dos valores da própria pessoa.
Isto é contraintuitivo. Esquivar-se por supressão é o que a mente sabe fazer. Um homem novo e altamente religioso brigando consigo por assistir a muita pornografia é capaz de criticar-se horrivelmente, e ele tenta eliminar a urge e suprimir todos os pensamentos ligados aquilo. Isto parece ser muito difícil e também a atitude moral a se tomar, porém esta pesquisa sugere que esta rota gera mais briga, mais sofrimento e ironicamente pensamentos ainda mais obsessivos.
E deve ser dito: é também uma péssima teologia. Até Cristo foi tentado, afinal de contas. Simplesmente ter um pensamento, ou sentir uma sensação, não é um pecado na maioria das filosofias religiosas. Pecados exigem uma ação da vontade, um agir empírico no mundo. Um solucionador de problemas normal não consegue ter esta distinção.
O primeiro estudo controlado sobre como endereçar a problemática de assistir pornografia na internet foi publicada em Setembro de 2010 no respeitado jornal clínico, Behavior Therapy. Twohig e seu co-autor Jess Crosby aplicou oito sessões de ACT relacionados a este problema. Enquanto os participantes aprendiam em aceitar a urge, aprenderam também a compreender-se de uma forma mais gentil e menos julgamentosa e, também articularem-se a agirem baseando-se em valores, enquanto aprendiam tudo isto, algo notável aconteceu. Os participantes começaram a assistir com menos frequência, mas o que foi notável mesmo foi como isto aconteceu. As pessoas suavizaram-se. As obsessões religiosas diminuíram, mas, além disto, comprometimentos positivos aumentaram. Pensamentos obsessivos foram aliviados e com isto também a preocupação dos pensamentos espontâneos que causavam mal. Pessoas começaram a aceitar suas emoções e ficaram menos enraizadas em seus pensamentos. E também foram mais capazes em agir de acordo com seus valores frente a um objetivo positivo, carregando a dificuldade dos pensamentos e sentimentos com eles, porém de uma forma mais compassiva.
Parece que ambos os lados do debate cultural armazenam um pedaço deste sucesso. Talvez seja hora de termos uma conversação adulta sobre o problema que não pode ser nomeado.
Obs: Existem diversos livros populares que podem ensinar estas técnicas sobre a ACT, tais como “Happinnes Trap” (Russ Harris) e “Get out of Your Mind and Into Your Life” do próprio autor do texto.
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