Até que ponto uma moda pode decidir por alguém o que fazer, com quem fazer e como fazer quando nos referimos a sexo?
Me pergunto isto desde que lí sobre as famosas Pulseiras do Sexo. São parte de uma brincadeira que surgiu na Inglaterra, na qual, cada cor de pulseira possui um significado (um tipo de conduta a se seguir caso alguém arrebente), e todas ligadas à comportamentos, por assim dizer, sexuais.
Veja os significados das pulseiras:
- Amarela – um simples abraço
- Rosa – mostrar o peito
- Laranja – dentadinha de amor
- Roxa – beijo com a língua – talvez sexo
- Vermelha – dança erótica à curta distância
- Verde – sexo oral a ser praticado pelo rapaz
- Branca – a menina escolhe o que quiser
- Azul – menina faz sexo oral (boquete)
- Preta – sexo com a menina na posição papai-mamãe
- Dourada – todos os itens acima.
Funciona assim: a pessoa coloca em seu braço a cor das pulseiras às quais possuem significados correspondentes ao que estiver disposta a fazer. Os outros podem arrebentá-las. Se um rapaz arrebenta a pulseira roxa, por exemplo, a dona da pulseira tem que dar um beijo de língua nele - e talvez, fazer sexo. Assim sucessivamente, variando de acordo com a cor da pulseira.
Existem várias comunidades sobre o assunto no orkut. Busquei conversar com algumas pessoas que jogam, e descobrí que, em maior parte, são mulheres que usam - embora homens usem também. Outra coisa interessante que descobrí, porém, assustadora, é que, se a pessoa que teve a pulseira arrebentada não quiser fazer o que a pulseira determina ¹, ela é levada a fazer à força. Ou, menos grave, excluída de diversas atividades do grupo, passando a ser discriminada por todos dalí. Pode inclusive apanhar quem não se submeter ao que a pulseira determina.
¹ - estas regras podem variar conforme o grupo de pessoas que joga. Como me relataram algumas pessoas que jogam, elas podem ter unicamente função de divertir o grupo e, nestes casos, ninguém é obrigado a fazer nada.Outras pessoas disseram que as pulseiras servem como um convite, apenas, e a pessoa que tiver a pulseira arrebentada aceita se quiser.
Quem joga, não precisa, necessariamente, usar todas as 10 cores de pulseiras. Coloca apenas aquilo que estiver disposta a fazer; pois, como me disseram todos os que conversei, se está com a pulseira, automaticamente está jogando, estando então, submetido (a) às regras da brincadeira.
Obviamente, no entanto, nem todos os que usam as pulseirinhas coloridas, sabem de seu significado; portanto, não está no jogo. Difícil é quem está, acreditar e aceitar um "não" diante das condições explicadas acima. Algumas pessoas podem usar simplesmente por estar na moda as pulseirinhas e as acharem bonitinhas, sem conhecerem sua conotação sexual.
Antes de começar a usar, então, é importante que se pense bastante a respeito de quais pulseiras está disposto (a) a usar, e quais são as pessoas que, possivelmente, irão arrebentá-la (quais ambientes frequenta, e quem frequenta estes ambientes). Alguns casos podem terminar com estupro, como este.O jornal português Jornal de Notícias traz uma matéria interessante sobre o assunto, inclusive comentando sobre o Brasil. Vale a pena ler.
Antes de começar a usar, então, é importante que se pense bastante a respeito de quais pulseiras está disposto (a) a usar, e quais são as pessoas que, possivelmente, irão arrebentá-la (quais ambientes frequenta, e quem frequenta estes ambientes). Alguns casos podem terminar com estupro, como este.O jornal português Jornal de Notícias traz uma matéria interessante sobre o assunto, inclusive comentando sobre o Brasil. Vale a pena ler.
E o que fazer se meu filho está usando esta pulseira?
Antes de mais nada, é importante que os pais consigam dialogar abertamente com o filho. Adianta pouco querer impor uma regra ou uma ordem através do autoritarismo ou ameaças, não permitindo ao filho que se expresse. Além disso gerar na criança uma dificuldade muito grande de falar realmente o que vive, pensa e sente para seus pais, pode deixá-la também mais propensa a procurar apoio fora de casa, com colegas de escola ou outros - especialmente se é um padrão dos pais esta postura impositiva e fechada frente à realidade e sentimentos da criança.
Dentre as pessoas com quem conversei, várias citaram "aceitação em grupos" como motivo para adesão à moda das pulseirinhas. Se a criança é fruto de um lar no qual não é valorizada, onde seus pais criticam muito o que ela faz, ou simplesmente não dão atenção às suas qualidades, as chances dela fazer coisas para aderir a grupos aumenta. Isto vale, inclusive, para tabaco, álcool e outras drogas. Ela adere a comportamentos comuns ao grupo no qual deseja se inserir para, deste modo, ser aceita.
Quando for falar sobre o filho a respeito da pulseira, portanto, procure dar atenção ao que ele sente e vive, dentro e fora de casa. Deixe-o falar também. Especialmente se seu filho já é maior de 10 anos de idade. Ele pode muito bem estar usando a pulseira para conseguir ser aceito em algum grupo. E pouco adianta dizê-lo que isto não é necessário ou brigar com ele, pois se ele o faz, certamente, esta é a maneira pela qual mais consegue aceitação.
Esta regra de "ouvir seu filho" não vale apenas para o caso das pulseirinhas, mas para todo e qualquer outro problema. Se a criança não vai bem na escola, por exemplo, existem uma série de fatores que podem estar contribuindo. Por exemplo, bullying, condições emocionais/ fisiológicas intervenientes, condições em sala de aula ou em casa incompatíveis ao estudo, etc.
Voltando às pulseiras, é possível tecer uma série de fatores que influenciem o seu uso. Neste texto pensei em focar mais na adesão aos grupos pois, discutindo outros, poderia torná-lo muito longo. Vale a pena falar de mais alguns, no entanto. Se é pra levantar hipóteses, não custa nada.
Outro fator que pode influenciar o uso das pulseiras são fantasias de dominação/ dominado. Por exemplo, uma pessoa que fantasie ser "pega" no meio de uma festa por um desconhecido, que a leva para um lugar exótico e faz sexo com ela neste lugar, pode, muito bem, usar a pulseira como um meio facilitador para que isto ocorra.
Outro fator que pode influenciar o uso das pulseiras são fantasias de dominação/ dominado. Por exemplo, uma pessoa que fantasie ser "pega" no meio de uma festa por um desconhecido, que a leva para um lugar exótico e faz sexo com ela neste lugar, pode, muito bem, usar a pulseira como um meio facilitador para que isto ocorra.
Outra possibilidade é a pura diversão. Esta foi citada pelos jovens com os quais falei, também. Usam a pulseira, brincam apenas dentro de um grupinho específico - fechado, no qual todos se conhecem. Fora dele, tiram-nas. Dentro deste grupo, os jogadores podem brincar como se jogassem Verdade ou Consequência (conhecem?), mas no lugar de quem fez a pergunta escolher uma consequência, ele arrebenta uma pulseira.
Outra possibilidade pode estar nos elementos reforçadores da transgressão de regras, ou exposição ao inesperado. Algo como: quem vai arrebentar minha pulseira, será alguém interessante? Quem, em sua história de vida, já obteve boas recompensas ao se expor a situações de risco, surpresas, ou outras do gênero, pode muito bem usar as pulseiras para se expor a estas situações nas quais não sabe o que está por vir. É aquela coisa: prazer no risco.
Outra possibilidade de uso que me foi citada é entre casais de namorados. Os dois colocam as pulseiras quando querem brincar um com o outro nas relações sexuais, e, à medida em que vão sendo arrebentadas, os dois vão fazendo o que as pulseiras determinam nas "preliminares" até que se arrebente a preta. Quando a relação termina, retiram as pulseiras para evitarem situações constrangedoras com estranhos.
9 comentários:
Muito bom, Neto!
Esse tema é bem atual e talvez os pais não tenham ainda muita noção do alcance dele.
Parabens pelo alerta e pelas boas instruções aos interessados!
excelente análises funcionais de um fenômeno contemporâneo que tem preocupado muitos, mas muitos pais...
Thaís, é verdade que os pais não tem muito alcance a isto. Acho que, como comentado, o cerne do problema tá no diálogo entre pais e filhos, que anda bastante precário. Seria legal se os filhos confiassem nos pais o bastante pra contar a eles sobre o que sentem.
Obrigado Silier.
Além das hipóteses citadas, pensei também que os participantes da brincadeira poderiam ser reforçados em razão da economia de tempo e de emoções indesejadas às vezes despendidos e sentidos em contextos de paquera. Em outras palavras, alguns podem julgar que "mascar" uma garota durante horas e acabar ouvindo um frustrante "não" não vale a pena se comparado a arrebentar uma pulseira (questão de segundos) e saber de cara (e possivelmente sem muita frustração) se contatos mais íntimos são também desejados por dela. Desse modo, filhos da modernidade líquida e, é claro, tímidos poderiam colher benefícios.
Verdade, Daniel. No meio do texto ainda tendí a discordar, pois geralmente a conquista envolve todo um processo, e tals, mas quem joga, parece que automaticamente abre mão dele.
Interessante o texto, mas poderia ter colocadot ambém a conotação cultural que ela tem na inglaterra e a transformação sofrida pela nossa cultura. E como citado, as pulseiras possuem varios sentigos. Acho que o maior problema não está apenas na relação pais/filhos mas midia/sociedade. Raramente vemos a midia expor essas brincadeiras, só quando rola um caso muito grave e olhe lá.
Porque ainda assim,mandam um psicologo/sociologo/antropologo falar asneiras. É algo que vejo com relação aos jogos eletronicos. Belo texto Neto.
Interessante, Rafael. Teria mesmo sido legal se tivesse falado respeito. Teria ficado mais completa a análise.
Agradeço a idéia.
Quanto às asneiras, acho que o ponto é justamente o que vc levantou. Deixam de lado os determinantes histórico-culturais dos comportamentos, analizando-o apenas sob ele mesmo. Isso incorre descontextualizá-lo.
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